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Conversa com público — Catarina Costa e Silva + Filipa Meneses + Joana Amorim + Rebeca Amorim Csalog — Online

4 DEZEMBRO 2021
10h30 ONLINE

A conversa tem lugar, no dia e hora marcados, nas seguintes plataformas
The talk takes place, on the scheduled day and time, on the following platforms
Youtube Live + Facebook Live

CONVERSA COM O PÚBLICO

CATARINA COSTA E SILVA dança \dance
FILIPA MENESES viola da gamba
JOANA AMORIM traverso
REBECA AMORIM CSALOG harpa \harp




CATARINA COSTA E SILVA
FILIPA MENESES


Oh Solitude

“Oh solidão, dulcíssima escolha …”
“Oh solitude, my sweetest choice…”


  1. The Division Viol - Prelúdio em ré menor (Inglaterra), 1665, Christopher Simpson (1605/1669)

  2. Musicall Humors - The Spirit of Gambo (Inglaterra), 1605, Tobias Hume (1569/1645)

  3. Pièces de Viole - Suite em ré menor: VII. Chaconne, (França), Jean de Sainte-Colombe (1640/1700)

  4. La Solitude, Marc-Antoine de Saint-Amant (excertos de texto declamado)º

  5. The Division Viol - Prelúdio em mi menor, Christopher Simpson

  6. Musical Humors - A Soldiers Galliard, Tobias Hume

  7. Suite n. 1 pour viole seule - Fantaisie en rondeau (França), Sainte Colombe Le Fils (1660/1720)

  8. Improvisação sobre ground de Oh solitude, my sweetest choice (Inglaterra), Henry Purcell (1659/1695)

  9. Pièces à une et à trois violes, Quatrième livre (1717) - Suite d'un Goût Etranger: Le Badinage, Marin Marais (1656/1728)

  10. La Solitude, Marc-Antoine de Saint-Amant (excertos de texto declamado)

  11. Pièces à une et à trois violes, Quatrième livre (1717) - Suite d'un Goût Etranger: La Rêveuse, Marin Marais

  12. Pièces de Viole, Deuxième livre (1701) - Couplets de Folies d'Espagne, Marin Marais


Programa constituído a partir de repertório de viola da gamba de compositores ingleses e franceses tais como Tobias Hume, Christopher Simpson, Marin Marais e Sainte Colombe. Nesta viagem entre os dois países ligados pela Mancha, encontramos as palavras de Marc-Antoine de Saint-Amant selecionadas e escolhidas pela poetisa Katherine Phillips sobre a solitude. Oh solitude, my sweetest choice é mote para monodia sobre baixo ostinato de Henry Purcell e inspira um concerto dançado constituído por dois monólogos paralelos que anseiam dialogar.

Programme based on the viola da gamba repertoire by English and French composers such as Tobias Hume, Christopher Simpson, Marin Marais and Sainte Colombe. On this journey between the two countries linked by the English Channel, we encounter Marc-Antoine de Saint-Amant’s words, selected by the poet Katherine Philips, on solitude. ‘Oh solitude, my sweetest choice’ is the theme for a monody over ground bass by Henry Purcell and inspires a danced concerto formed of two parallel monologues that are eager to converse.


Português

Espelhando o repertório para viola da gamba de compositores franceses e ingleses, o poema La Solitude de Marc Antoine de Saint-Amant (1594-1661), parcialmente traduzido pela escritora inglesa Katherine Philips (1631-1664) testemunha a interinfluência entre a cultura continental e insular e nomeadamente, entre a cultura gaulesa e a bretã. Culturas e regiões que, apesar de muitas vezes em conflito durante a idade moderna, se nutrem mutuamente entre quezílias e seduções mútuas. Uma tentativa constante de se afastar, apesar da proximidade histórica, de se identificar contra o outro. Um continente que se escuda, uma insula que se protege, enfim… uma vontade de viver por oposição, distanciando-se. Mas, na verdade, apesar de todas as tentativas, gauleses e bretões se encontram e se reinventam com influências mútuas. 
Saint-Amant e Philips partilham a solitude e a solitude é aqui doce (O! que j'aime la solitude!/ Oh solitude, my sweetest choice). Aqui, a solitude é escolha, é vontade, é recorrência... é ostinato. E é esta solitude que Henry Purcell (1659-1695) musicou: melodia sobre baixo ostinato que lembra deambulação contemplativa por paisagens, por memórias, por pensamentos, por emoções de alguém só. E assim mais do que a resignação, ouve-se a aceitação do estado de solitude como um estado agridoce, mas inspirador. 
A ideia de confirmação, de repetição inspira igualmente a forma Rondó também presente neste programa como metáfora de eterno retorno: ao mote, a si mesmo. Como se cada refrão fosse o indivíduo só, que se relaciona com outrem aquando das estrofes. «Quando estou só reconheço que existo entre outros que são como eu sós», diz Fernando Pessoa, e com isto nos faz compreender que compomos um mundo de sós que se relacionam, se amam, se odeiam, se encontram, se afastam, enfim, existem juntos mas sempre separados pela inevitabilidade da sua condição solitária. (Ou no caso da Gália e da Bretanha separados pelo mar…) Também en rondeau são Le Badinage e La Revêuse, dois sós que se intitulam e se confirmam de cada vez que regressam ao refrão, corroborando a sua identidade apesar das divagações nos couplets.

Em 1659 Christopher Simpson publica The Division Viol: manual para ensinar os seus alunos a improvisar diminuições sobre um ostinato na linha do baixo (divisions upon a Ground), prática tão em voga nessa época. Sobre um ostinato… sobre um chão onde se deambula, se experimenta, se improvisa… se procura novo caminho, novo sentido, novo significado. Os dois prelúdios de Simpson são aqui preliminares de procuras, de reflexões feitas de escrita improvisada. 
Baseadas em progressões previsíveis são também aqui composições como a Chaconne ou as Folies que, apoiadas na regularidade cadencial, gozam da possibilidade da variação constante e contínua (…deambulando…) como se compusessem um diário de bordo, um filme de vida em que cada couplet é um momento, um episódio, uma idade. A escrita deste percurso é também visível nas coreografias registadas na época aqui interpretadas, através de traçados distintos: uns mais angulosos, outros mais redondos; uns mais sinuosos, outros mais lineares; uns mais agitados e densos, outros mais serenos e diáfanos. O tempo e o espaço desta viagem estão aqui notados compondo um mapa, um registo, um testemunho de quem caminhou, mas também orientando quem agora caminha, no caso, também só. 
Escutaremos um solilóquio na voz da viola da gamba - o mais humano dos timbres - que nos estimula ao reencontro com o eu, à procura do tempo e do espaço íntimos, da introspeção. Porque a gambista abraça e abriga; a gamba entrega-se e reconforta, formando um só. 
Veremos o monólogo da dança e da palavra que incorporará o som e suará a emoção, desvendando assim a intimidade. Porque a bailarina amplifica e expande; o espaço envolve e molda, formado um só.
Assim navegam a par - os sós – entre geografias, entre cronologias, mas também entre tempi, entre carácteres…entre repetições e entre improvisações. Deambulando... para se encontrarem... se desencontrarem... sempre seguindo, sobre o eterno devir.

English

Mirroring the repertoire for viola da gamba by French and English composers, the poem La Solitude de Marc Antoine by Saint-Amant (1594-1661), partially translated by English writer Katherine Philips (1631-1664), bears witness to the mutual influence between continental and island culture and, in particular, between Gallic and British culture. Cultures and regions that, despite frequent conflicts during the modern age, are mutually nourished by shared grievances and allures. A constant attempt to create distance, despite their historic proximity, to identify against the other. A continent that shields itself, an isle that protects itself, essentially... a desire to live by opposition, by distancing. In truth, however, despite their best efforts, the Gauls and Brits still meet and reinvent themselves with mutual influences. 
Saint-Amant and Philips share solitude and the solitude here is sweet (O! que j'aime la solitude!/ Oh solitude, my sweetest choice). Here, solitude is a choice, it is desired, it is recurrent... it is ostinato. And it is this solitude that Henry Purcell (1659-1695) set to music: a melody over ground bass that recalls contemplative wandering through the landscape, through memories, through thoughts, through the emotions of a lone individual. And so, more than resignation, we can hear acceptance of this solitude as a bittersweet but inspiring state. 
The idea of confirmation, of repetition, also inspires the rondo form also present in this programme as a metaphor for eternal return: to the theme, to oneself. As though every refrain were a lone individual, only relating to someone else when we reach the verse. ‘When I am alone, I realise that I exist among others who are, like me, alone,’ said Fernando Pessoa, and with this he gives us to understand that we form a world of lone individuals who form relationships, who love, hate, come together, move apart, who essentially exist together but always separated by the inevitability of our solitary condition. (Or in the case of France and Britain separated by sea...) Also in rondeau form are Le Badinage and La Revêuse, two individual pieces that name and confirm themselves each time they return to the refrain, corroborating their identity despite their digressions into couplets.

In 1659, Christopher Simpson published The Division Viol: a manual to teach his pupils to improvise divisions upon an ostinato bass line (divisions upon a Ground), a practice that was very much in vogue during this period. Upon an ostinato... upon a floor across which we wander, experiment, improvise... we seek a new path, a new sense, new meaning. Simpson’s two preludes are preliminaries here, of searches, of reflections made of improvised writing. 
Based on predictable progressions, there are also compositions such as Chaconne and Folies which, supported by a regular cadence, enjoy the possibility of constant and continual variation (...wandering...) as if they were composing a logbook, a biopic in which each couplet is a moment, an episode, an age. The writing of this journey is also visible in the choreographies noted during that period and performed here, through distinct outlines: some more angular, some rounder; some more sinuous, others more linear; some denser and more agitated, other calmer and diaphanous. The time and space of this journey are noted here to compose a map, a record, a testimony of those who walked it, but also guiding those who are walking it now, who are also alone. 
We will hear a soliloquy in the voice of the viola da gamba – the most human of timbres – an encouragement to find ourselves again, a search for an intimate space and time, of introspection. Because the gamba player embraces and shelters, the gamba gives itself and offers comfort, and they become one. 
We will see the monologue of dance and word that will incorporate sound, perspire emotion, and thus unveil intimacy. Because the dancer amplifies and expands, the space envelops and shapes, and they become one.
So they navigate together – these single units – amongst geographies, amongst chronologies, but also amongst tempi, amongst characters... amongst repetitions and amongst improvisations. Wandering... to find each other... to lose each other... always following, towards the eternal becoming.


Português

Filipa Meneses. Licenciada em Piano pela ESMAE (Porto) e Conservatorium van Amsterdam (Holanda).
Com a descoberta da Viola da Gamba dedica-se apaixonadamente ao estudo deste instrumento.
Conclui o Mestrado em Viola da Gamba na Schola Cantorum Basiliensis (Suíça) sob orientação de Paolo Pandolfo, após a Licenciatura no Real Conservatório de Haia (Holanda), sob a orientação de Philippe Pierlot.
Teve a oportunidade de estudar com os gambistas mais proeminentes da actualidade, como Atsushi Sakai, Baldomero Barciela, Christophe Coin, Emmanuel Balssa, Juan Manuel Quintana, Rainer Zipperling, Sergi Casademunt, Willand Kuijken e Xurxo Varela.
Gravou para várias editoras nomeadamente Harmonia Mundi (Gli Incogniti – Amandine Beyer), Naxos (Capella Duriensis), Outhere Music (Voces Suaves), assim como a primeira gravação mundial do recém descoberto “Leuven Chansonnier” com Sollazzo Ensemble - Passacaille/Ambronay editions.
Apresenta-se regularmente com diversos agrupamentos como “Le Parlement de Musique” (Martin Géster/FR), “Profeti della Quinta” (Elam Rotem/CH), “Les Timbres”(Miriam Rygnol/FR), “Sollazzo Ensemble” (Anna Danilevskaya/CH), “Seconda Pratica Ensemble” (J. Alvarado/N. Atalaia/NL), Voces Suaves e “Músicos do Tejo” (Marcos Magalhães/Marta Araújo/PT) entre outros.
Numa busca constante por explorar diferentes linguagens na Viola da Gamba trabalhou em estreito contacto com compositores como Georg Friedrich Haas, Guillermo Klein ou Bardia Charaf estreando obras suas mundialmente.
Primeiro lugar no Prémio Jovens Músicos 2012, categoria Música Barroca com o ensemble "Heptachordum”.

Catarina Costa e Silva. A sua atividade artística e pedagógica abrange as suas diferentes formações: curso vocacional de dança (Ginasiano Escola de Dança); Licenciatura em História da Arte (Faculdade de Letras da Universidade do Porto); Licenciatura em Canto (Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo); Master of Arts-Music-Theatre Studies (University of Sheffield); Curso de Encenação de Ópera (Fundação Calouste Gulbenkian). Fez formação em Danças Antigas com renomados mestres como Béatrice Massin, Bruna Gondoni, Caroline Pingault, Catherine Turocy, Cecília Gracio Moura, Cecília Nocilli, Diana Campóo, Dorothée Wortelboer, Françoise Denieau, Jürgen Schrape, Marie Geneviève Massé, Maria José Ruiz, Maurizio Padovan, Ricardo Barros. Como intérprete (dança contemporânea, dança antiga, canto) ou assumindo a encenação/direção coreográfica, apresentou-se dentro e fora da Europa (Alemanha, Brasil, Espanha, Finlândia, França, Inglaterra, Itália) em importantes eventos (Aerowaves-Londres, Guimarães 2012–Capital Europeia da Cultura, Dias da Música-CCB, Tempestade e Galanterie-Queluz, Festival Mozart-Rovereto, Fringe-Utrecht, Encontro de Música Antiga de Loulé) com diversos agrupamentos nacionais e estrangeiros (Capella Sanctae Crucis, Coro da Casa da Música, Divino Sospiro, Ensemble Americantiga, Ensemble Clepsidra, Ensemble Elyma, Il Dolcimelo, O Bando do Surunyo, Orquestra de Mateus, Orquestra Vigo 430, Udite Amanti, ...). Leciona Danças Antigas no Curso de Música Antiga da ESMAE – I.Porto desde 2008, assim como em diferentes instituições nacionais e estrangeiras (como exemplo: EUBO – European Baroque Orchestra ou Semana de Música Antiga da Universidade Federal de Minas Gerais). É membro fundador da Portingaloise – Associação Cultural e Artística e diretora artística do Portingaloise – Festival Internacional de Danças e Músicas Antigas (desde 2015). É doutoranda de Estudos Artísticos- Estudos Musicais e membro colaborador do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra.

English

Filipa Meneses. Degree in Piano from ESMAE (Porto) and Conservatorium van Amsterdam (Netherlands).
After discovering the viola da gamba, she devoted herself passionately to studying the instrument.
She completed a master’s in Viola da Gamba at the Schola Cantorum Basiliensis (Switzerland), under the guidance of Paolo Pandolfo, after graduating from the Royal Conservatoire of the Hague (Netherlands), under the guidance of Philippe Pierlot.
She has had the opportunity to study with the most celebrated gamba players of the present day, such as Atsushi Sakai, Baldomero Barciela, Christophe Coin, Emmanuel Balssa, Juan Manuel Quintana, Rainer Zipperling, Sergi Casademunt, Willand Kuijken and Xurxo Varela.
She has recorded for various labels, namely Harmonia Mundi (Gli Incogniti – Amandine Beyer), Naxos (Capella Duriensis), Outhere Music (Voces Suaves), as well as the first global recording of the recently discovered ‘Leuven Chansonnier’ with Sollazzo Ensemble - Passacaille/Ambronay editions.
She regularly performs with diverse groups such as ‘Le Parlement de Musique’ (Martin Géster/FR), ‘Profeti della Quinta’ (Elam Rotem/CH), ‘Les Timbres’ (Miriam Rygnol/FR), ‘Sollazzo Ensemble’ (Anna Danilevskaya/CH), ‘Seconda Pratica Ensemble’ (J. Alvarado/N. Atalaia/NL), Voces Suaves and ‘Músicos do Tejo’ (Marcos Magalhães/Marta Araújo/PT) among others.
On her constant quest to explore different languages in viola da gamba, she has worked in close contact with composers such as Georg Friedrich Haas, Guillermo Klein and Bardia Charaf, giving world-first performances of their works.
First place in the Young Musicians Prize 2012, Baroque Music category, with the ensemble ‘Heptachordum.’

Catarina Costa e Silva. Her artistic and teaching work demonstrates her wide-ranging training: vocational dance course (Ginasiano Escola de Dança); Degree in History of Art (Faculty of Humanities, University of Porto); Degree in Singing (Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo); Master of Arts-Music-Theatre Studies (University of Sheffield); Opera Staging Course (Calouste Gulbenkian Foundation). She trained in Early Dance with renowned masters such as Béatrice Massin, Bruna Gondoni, Caroline Pingault, Catherine Turocy, Cecília Gracio Moura, Cecília Nocilli, Diana Campóo, Dorothée Wortelboer, Françoise Denieau, Jürgen Schrape, Marie Geneviève Massé, Maria José Ruiz, Maurizio Padovan and Ricardo Barros. As a performer (contemporary dance, early dance, singing) or taking responsibility for staging/choreography, she has worked in and outside Europe (Germany, Brazil, Spain, Finland, France, England, Italy) at major events (Aerowaves-London, Guimarães 2012- European Capital of Culture, Music Days-CCB, Tempest and Galanterie-Queluz, Festival Mozart-Rovereto, Fringe-Utrecht, Loulé Early Music Meet) with diverse national and foreign groups (Capella Sanctae Crucis, Coro da Casa da Música, Divino Sospiro, Ensemble Americantiga, Ensemble Clepsidra, Ensemble Elyma, Il Dolcimelo, O Bando do Surunyo, Orquestra de Mateus, Orquestra Vigo 430, Udite Amanti, etc.). She has taught Early Dance on the Early Music course at ESMAE – I.Porto since 2008, as well as at different Portuguese and foreign institutions (including: EUBO – European Baroque Orchestra or Early Music Week at the Federal University of Minas Gerais). She is a founding member of Portingaloise – Cultural and Artistic Association and artistic director of Portingaloise – International Festival of Early Dance and Music (since 2015). She is studying for a doctorate in Artistic Studies - Musical Studies and a collaborative member of the Centre for Classical and Humanistic Studies at the University of Coimbra.


JOANA AMORIM
REBECA AMORIM CSALOG


JOANA AMORIM traverso
REBECA AMORIM CSALOG harpa \harp

Saoirse

Música Celta para Flauta e Harpa.
Celtic Music for Flute and Harp.

  1. Star of the County Down, John Anderso + My Jo, Tradicional Irlandesa, arr. Sunita Staneslow

  2. Rights of Man, Tradicional Irlandesa e Escocesa, arr. Sunita Staneslow

  3. Carrickfergus, Tradicional Irlandesa, arr. Sunita Staneslow

  4. Larry O’Gaff/Garret Barry’s Jig - Tradicionais Irlandesas, arr. Sunita Staneslow

  5. Mr. Donough’s Lamentation, Turlough O’Carolan (1670-1738), arr. Vasco Negreiros

  6. The Butterfly, Tommy Potts (1912-1988), arr. Sunita Staneslow

  7. Mister O’Connor - Turlough O’Carolan (1670-1738)

  8. Tripping up the Stairs, Tradicional Escocesa, arr. Sunita Staneslow

  9. Lochaber No More, Tradicional Irlandesa, arr. Sunita Staneslow

  10. Paddy’s Lamentation/Ships are sailing, Tradicional Irlandesa, arr. Vasco Negreiros e Sunita Staneslow

  11. Flower of Edinburgh, Tradicional Escocesa, arr. Sunita Staneslow

  12. Ye Banks and Braes/Flow Gently, Sweet Afton, James Oswald (1710-1769)/Robert Burns (1756-1796), arr. Sunita Staneslow

  13. Wind that Shakes the Barley/Willafjord, Tradicional Irlandesa, arr. Sunita Staneslow

Nunca saberemos em que medida a cultura musical de origem celta se cruzou com outras influências, na construção das tradições musicais europeias. Por causa da enorme emigração irlandesa para os Estados Unidos da América, esta influência acabou por atravessar cedo o Atlântico, marcando muito o que hoje chamariamos cultura folk, dum e doutro lado do oceano e, entretanto, pelo mundo afora. 
Neste programa propomos uma viagem pelo universo da música tradicional irlandesa e escocesa, através da junção de dois instrumentos emblemáticos desta cultura: a harpa e a flauta. Tocados por bardos e trovadores, são instrumentos que quando se juntam transportam imediatamente para um imaginário celta. A harpa, instrumento sagrado e associado ao deus celta Dagda, tocada por figuras lendárias como O’Carolan, o bardo cego, é ainda hoje o símbolo da Irlanda. Já a flauta tradicional irlandesa é extremamente semelhante ao traverso barroco: uma flauta de madeira com um som doce e aveludado. Do encontro destes dois instrumentos nasceu a vontade de explorar a música tradicional irlandesa e escocesa, num programa que junta melodias dos séculos XVIII e XIX, com arranjos de Sunita Staneslow e Vasco Negreiros. “Saoirse” é uma palavra de origem celta que significa liberdade, e que dá o mote a este encontro: a liberdade de tocar em conjunto, de juntar música e afinidades, e de partilhar com o público aquilo que nos traz felicidade.

We will never know to what extent musical culture of Celtic origin merged with other influences in the construction of European musical traditions. Because of the large-scale Irish emigration to the United States, this influence crossed the Atlantic early on, marking much of what we now call folk culture, on both sides of the ocean and all around the world. 
In this programme, we propose a journey through the world of traditional Irish and Scottish music, bringing together two instruments that are emblematic of this culture: the harp and the flute. Played by bards and troubadours, these are instruments that, when played together, immediately transport us in our imaginations to a Celtic world. The harp, a sacred instrument associated with the Celtic god Dagda, played by legendary figures such as O’Carolan, the blind bard, is still the symbol of Ireland today. The traditional Irish flute is extremely similar to the baroque traverso: a wooden flute with a sweet, velvety sound. The meeting of these two instruments sparked the desire to explore traditional Irish and Scottish music, in a programme that brings together melodies from the 18th and 19th centuries with arrangements by Sunita Staneslow and Vasco Negreiros. ‘Saoirse’ is a word of Celtic origin that means freedom, and which gives this meeting its theme: the freedom to play as a group, to combine music and affinities, and to share with the audience something that brings everyone joy.

Este projecto nasceu da vontade de tocar em duo, em família, e do gosto partilhado pela música folk e tradicional de vários países. A estreia aconteceu na Índia, no festival Ketevan de Goa, em Janeiro de 2016, onde as duas instrumentistas apresentaram vários programas de fusão entre música ocidental e indiana, e onde tocaram pela primeira vez este programa de música tradicional irlandesa e escocesa. Desta semente cresceu o projecto Saoirse, que apresentaram, no verão seguinte, no festival Andanças (Agosto de 2016), onde, para além do concerto, criaram um espectáculo infantil sobre a temática dos druidas e bardos celtas, que se viria a repetir em Março de 2018, em Almada, juntando-se ao duo o actor Pedro Oliveira, num programa para escolas. Tocaram também em Serpa, em Outubro de 2016, e, na Faculdade de Ciências de Lisboa, em Abril de 2018.

This project was born of the desire to play as a duo, as a family, and a shared taste for folk and the traditional music of various countries. The first performance in India, at the Ketevan festival in Goa, in January 2016, where the two instrumentalists performed various programmes fusing western and Indian music, was where they first played this programme of traditional Irish and Scottish music. From this seed, the Saoirse project grew, presented the following summer at the Andanças festival (August 2016), where, in addition to the concert, the performers created a children’s show on the theme of Celtic druids and bards, which was repeated in March 2018, in Almada, with actor Pedro Oliveira joining the duo in a programme for schools. They also played in Serpa, in October 2016, and at the Faculty of Sciences of the University of Lisbon, in April 2018.

PORTUGUÊS

Da cultura celta ter-nos-á ficado muitíssima influência, ainda que pouco documentada, mas claramente intuída na afinidade que sentimos ao ouvir ou dançar música tradicional da Escócia e da Irlanda. Talvez uma das sensações mais presentes, no contacto com esta cultura, seja a de liberdade ou do anseio por alcançá-la, no estado quase de transe a que a sua energia rítmica nos pode levar, assim como na pungência com que os seus lamentos nos atingem. Daí termos dado o nome Saoirse a este projecto, uma palavra originariamente galesa, cujo significado é: Liberdade.
O concerto começa com uma balada anónima tradicional irlandesa, Star of the County Down, com uma melodia tão popular, que conheceu muitos textos diferentes. O poema que parece ter sido o seu original foi escrito por Cathal MacGarvey (1866-1927), contando-nos do sonho de um rapaz, louco por casar com a rapariga que idolatra. Crê-se que a canção John Aderson, my jo terá uma origem mais antiga, no século XVI, pois o seu poema consta de um livro de meados desse século, referindo-se a um músico da cidade escocesa de Kelso. 
Rights of man é um interessantíssimo testemunho de como a ebulição francesa que acabou por resultar na revolução de 1789 chegou ao extremo norte da Europa. O livro Rights of man, do escritor Paine’s (1737-1809), defensor da Revolução Francesa, que acabou por ser proibido e queimado, após a venda de 200.000 exemplares, pode bem ter estado na origem da canção. Não se sabe bem quem e quando terá composto Carrickfergus, que tem uma grande similaridade com a canção Do Bhí Bean Uasal [Era uma vez um nobre], atribuída ao poeta Cathal Buí Mac Giolla Ghunna, falecido em 1756 na região de Clare.
Larry O’Gaff terá surgido provavelmente em associação com a peça teatral de mesmo nome, escrita por Samuel Lover’s (1797-1868), uma vez que é uma típica canção irlandesa criada para o palco, em contexto dramático. Consta que o músico itinerante Garret Barry terá morrido aos 52 anos de idade, em 1899. A sua reputação era tão grande, que ficou com o nome imortalizado numa jiga. Não haverá no entanto nome mais conhecido, na música irlandesa, do que o do harpista cego Turlough O’Carolan (1670-1738), um verdadeiro ícone da música irlandesa, sendo Mr. Donough’s Lamentation uma das suas mais famosas composições.
A ‘slip jig’ The Butterfly terá sido provavelmente composta pelo violinista Tommy Potts (1912-1988), com o intuito de ilustrar o jeito desajeitado de voar de uma borboleta. Mister O’Connor, outro grande êxito atribuído a Turlough O’Carolan (1670-1738), é ouvido num solo de harpa, o mais irlandês de todos os instrumentos, a ponto de ser usado como símbolo nacional, seguido da contagiante Jiga anónima Tripping up the Stairs. A canção Lochaber no more foi recolhida pela primeira vez em 1760, mas pode ter origem muito mais antiga.
Paddy’s Lament, também anónimo, é um extraordinário manifesto contra a guerra. O facto de se o ouvir inicialmente só pela flauta, demonstra a forma como muitas vezes se toca este instrumento na Irlanda, como voz vinda directamente da alma. Ships are Sailing é um exemplo de uma dança escocesa, chamada ‘reel’, que significa: rodopiar. Flower of Edinbourgh, que pode ter sido composta por James Oswald (1710-1769), é peça obrigatória do repertório Folk, principalmente entre violinistas, com muita presença também nos Estados Unidos da América e no Canadá. Ye banks and braes, composta por Robert Burns nos idos de 1791, marca no programa a presença de uma air. Do mesmo compositor será igualmente Sweet Afton, exultando a beleza do rio Afton – em Ayrshire, na Escócia – de uma forma tão convincente, que ainda hoje há muitos barcos que se chamam Afton, principalmente nos EUA.
Wind that shakes the barley, do poeta Robert Dwyer Joyce (1836-1883), faz referência à cevada e aveia que os revoltosos de 1798, na Irlanda, levavam nos seus bolsos, como provisão.
Crê-se que Willafjord (ou Wullafjord), um ‘reel’ muito popular nas borealíssimas ilhas Shetland, possa ter origem na Groenlândia. 
O mundo musical deste extremo norte da Europa é tão misterioso como fascinante, encontrando no traverso barroco e na harpa céltica dois intérpretes que lhe acentuam as mais variadas nuances, da verde montanha, ao mar bravio, alimentando-nos a imaginação e a curiosidade.

Vasco Negreiros

ENGLISH

Celtic culture has had a great deal of influence on Portugal. It might not be well documented, but we feel a clear affinity when we listen or dance to the traditional music of Scotland and Ireland. Perhaps one of the most obvious sensations, when we come into contact with this culture, is that of freedom, or the desire to achieve it, in the almost trance-like state to which its rhythmic energy lead us, not to mention the poignancy of its laments. That is why we named this project Saoirse, a word that is Welsh in origin, meaning: Freedom.
The concert begins with an anonymous traditional Irish ballad, Star of the County Down, which has such a popular melody that it has been used with many different texts. The poem on which it seems to have been based was written by Cathal MacGarvey (1866-1927), telling of the dream of a boy desperate to marry the girl he worships. The song John Anderson, my Jo is thought to be even older, dating from the 16th century, as the poem on which it is based appears in a book from the middle of that century, referring to a musician from the Scottish town of Kelso. 
Rights of man is a fascinating account of how the French turmoil that came to a head in the revolution of 1789 reached the far north of Europe. The book Rights of Man, by Thomas Paine (1737-1809), a defender of the French Revolution, which ended up being banned and burned after selling 200,000 copies, may well lie at the origin of the song. No one knows exactly who composed Carrickfergus, or when, but the song bears many similarities to the song Do Bhí Bean Uasal [There was once a noblewoman], attributed to the poet Cathal Buí Mac Giolla Ghunna, who died in 1756 in County Clare.
Larry O’Gaff probably emerged in association with the theatre piece of the same name, written by Samuel Lover (1797-1868), as it is a typical Irish song created for the dramatic context of the stage. The travelling musician Garret Barry reportedly died at the age of 52, in 1899. His reputation was such that his name was immortalised in a jig. However, there is no name more familiar, in Irish music, than the blind harpist Turlough O’Carolan (1670-1738), a true icon of Irish music, with Mr Donough’s Lamentation being one of his most famous compositions.
The ‘slip jig’ The Butterfly is thought to have been composed by the violinist Tommy Potts (1912-1988), with the aim of illustrating the butterfly’s clumsy flight. Mister O’Connor, another great success attributed to Turlough O’Carolan (1670-1738), is heard in solo harp, an instrument so typical of Ireland that it is a national symbol, followed by the catchy anonymous jig Tripping up the Stairs. The first record of the song Lochaber no more dates from 1760, but its origins may be even older.
Paddy's Lament, also anonymous, is an extraordinary anti-war manifesto. The fact that it was initially only played on the flute demonstrates how this instrument is often played in Ireland, like a voice coming directly from the soul. Ships are Sailing is an example of a Scottish reel. Flower of Edinburgh, thought to have been composed by James Oswald (1710-1769), is an obligatory piece in the Folk repertoire, particularly for violinists, and is also frequently heard in the United States and Canada. Ye banks and braes, composed by Robert Burns in 1791, adds the only air to the programme. Sweet Afton, by the same composer, praises the beauty of the River Afton – in Ayrshire, Scotland – so convincingly that even today many boats are named Afton, especially in the United States.
The wind that shakes the barley, by the poet Robert Dwyer Joyce (1836-1883), refers to the oats and barley that the Irish revolutionaries of 1798 carried in their pockets as provisions.
It is thought that Willafjord (or Wullafjord), a very popular reel in the far northern Shetland islands, originated in Greenland. 
The musical world of this northern extreme of Europe is as mysterious as it is fascinating, and in the baroque traverso and Celtic harp it finds two interpreters that can accentuate the most varied nuances, from the green mountain to the untamed sea, feeding our imaginations and curiosity.

Vasco Negreiros

PORTUGUÊS

Rebeca Amorim Csalog nasce a 14 de Janeiro de 1996, em Lisboa. Filha de músicos, pai húngaro e mãe portuguesa, começa a estudar violino aos três anos, na Academia de Música de Linda-a-Velha. Aos seis anos, entra no conservatório, onde escolhe como instrumento principal a harpa, estudando com Andreia Marques, e continuando aos 13 na classe de Ana Castanhito. Estudou violino como instrumento secundário com as professoras Rita Mendes e Pamela Hekimian. 
Ganhou vários prémios em concursos de harpa e música de câmara em Portugal, Espanha, Eslovénia e França.
Toca regularmente com diferentes orquestras por todo o país, como a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Sinfonietta de Lisboa, a Filarmonia das Beiras, a Orquestra Sinfónica de Thomar, entre outras. Como solista, estreou o concerto para harpa e orquestra ‘Z’, de Vasco Negreiros no Coliseu do Porto, em 2016. 
Paralelamente, licenciou-se em Antropologia em 2017 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde concluiu o Mestrado em Migrações, Inter-Etnicidades e Transnacionalismo em 2020. Neste momento frequenta o Mestrado em Música na Escola Superior de Música de Lisboa, na classe de harpa da professora Carolina Coimbra.



Joana Amorim toca regularmente diferentes traversos históricos, que vão desde o século XVI ao início do século XIX, assim como flauta de bisel. O seu interesse pela música e cultura do subcontinente indiano levaram-na a estudar também Bansuri. Joana Amorim graduou-se em Traverso com o Professor Barthold Kuijken, no Conservatório Real de Haia (Holanda) e com a Professora Linde Brunmayer, na Hochschule für Musik em Trossingen (Alemanha), e, em Flauta de Bisel, em Haia, com o Professor Ricardo Kanji. Joana Amorim obteve o Diploma de Mestrado em Traverso com o Professor Marc Hantaï na Universidade de Aveiro (Portugal). É fundadora do grupo Ludovice Ensemble, tocando regularmente também com outros grupos de música antiga, como, por exemplo, o Divino Sospiro. Já tocou sob a direcção de diversos maestros, tais como: Lawrence Cummings, Harry Christophers, Howard Hazel, Christian Curnyn, Enrico Onofri, Philippe Pierlot, Masaaki Suzuki, Vasco Negreiros, Timothy Henty, entre outros. A sua actividade pedagógica, como professora de Flauta de Bisel e Traverso na Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa, levou-a a publicar um método de flauta de bisel e a criar vários espectáculos infantis. Para além da sua actividade musical, gosta de andar a cavalo, de fazer mergulho, de ler livros, de viajar e de caminhar na natureza.

ENGLISH

Rebeca Amorim Csalog was born on 14 January 1996, in Lisbon. The daughter of musicians, with a Hungarian father and Portuguese mother, she began to learn violin at the age of three, at the Linda-a-Velha Music Academy. At six, she entered the conservatoire, where she chose the harp as her main instrument, studying with Andreia Marques, and continuing at the age of 13 in Ana Castanhito’s class. She studied violin as a secondary instrument with teachers Rita Mendes and Pamela Hekimian. 
She has won various prizes in harp and chamber music contests in Portugal, Spain, Slovenia and France.
She plays regularly with different orchestras around the country, such as the Lisbon Metropolitan Orchestra, the Sinfonietta de Lisboa, the Beiras Philharmonic Orchestra and the Thomar Symphony Orchestra, among others. As a soloist, she gave the first performance of ‘Z’, a concerto for harp and orchestra by Vasco Negreiros, at the Coliseu in Porto, in 2016. 
In parallel, she graduated in Anthropology in 2017 from the Faculty of Social and Human Sciences at the Universidade Nova de Lisboa, where she completed a master’s in Migrations, Inter-Ethnicities and Transnationalism in 2020. She is currently attending the master’s course in Music at the Escola Superior de Música in Lisbon, in the harp class taught by Carolina Coimbra.



Joana Amorim regularly plays different historic traversos, ranging from the 16th to the early 19th century, as well as the recorder. Her interest in the music and culture of the Indian subcontinent led her to also study the bansuri. Joana Amorim graduated in Traverso with Professor Barthold Kuijken, at the Royal Conservatoire of the Hague (Netherlands) and with Professor Linde Brunmayer at the Hochschule für Musik in Trossingen (Germany), and, in Recorder, in the Hague, with Professor Ricardo Kanji. Joana Amorim gained her master’s diploma in Traverso with Professor Marc Hantaï at the University of Aveiro (Portugal). She is the founder of the Ludovice Ensemble, and also plays regularly with other early music groups, such as Divino Sospiro. She has played under the direction of various conductors, including: Lawrence Cummings, Harry Christophers, Howard Hazel, Christian Curnyn, Enrico Onofri, Philippe Pierlot, Masaaki Suzuki, Vasco Negreiros and Timothy Henty, to name but a few. Her educational work as a teacher of recorder and traverso at the Music School of the National Conservatoire in Lisbon inspired her to publish a recorder method and to create various children’s shows. Beyond her musical activities, she likes horse-riding, scuba diving, reading books, travelling and walking in nature.