3 DEZEMBRO 2021
21h30 ONLINE
O concerto tem lugar, no dia e hora marcados, nas seguintes plataformas
The concert takes place, on the scheduled day and time, on the following platforms
Youtube Live + Facebook Live
CATARINA COSTA E SILVA dança \dance
FILIPA MENESES viola da gamba
Oh Solitude
“Oh solidão, dulcíssima escolha …”
“Oh solitude, my sweetest choice…”
The Division Viol - Prelúdio em ré menor (Inglaterra), 1665, Christopher Simpson (1605/1669)
Musicall Humors - The Spirit of Gambo (Inglaterra), 1605, Tobias Hume (1569/1645)
Pièces de Viole - Suite em ré menor: VII. Chaconne, (França), Jean de Sainte-Colombe (1640/1700)
La Solitude, Marc-Antoine de Saint-Amant (excertos de texto declamado)º
The Division Viol - Prelúdio em mi menor, Christopher Simpson
Musical Humors - A Soldiers Galliard, Tobias Hume
Suite n. 1 pour viole seule - Fantaisie en rondeau (França), Sainte Colombe Le Fils (1660/1720)
Improvisação sobre ground de Oh solitude, my sweetest choice (Inglaterra), Henry Purcell (1659/1695)
Pièces à une et à trois violes, Quatrième livre (1717) - Suite d'un Goût Etranger: Le Badinage, Marin Marais (1656/1728)
La Solitude, Marc-Antoine de Saint-Amant (excertos de texto declamado)
Pièces à une et à trois violes, Quatrième livre (1717) - Suite d'un Goût Etranger: La Rêveuse, Marin Marais
Pièces de Viole, Deuxième livre (1701) - Couplets de Folies d'Espagne, Marin Marais
Programa constituído a partir de repertório de viola da gamba de compositores ingleses e franceses tais como Tobias Hume, Christopher Simpson, Marin Marais e Sainte Colombe. Nesta viagem entre os dois países ligados pela Mancha, encontramos as palavras de Marc-Antoine de Saint-Amant selecionadas e escolhidas pela poetisa Katherine Phillips sobre a solitude. Oh solitude, my sweetest choice é mote para monodia sobre baixo ostinato de Henry Purcell e inspira um concerto dançado constituído por dois monólogos paralelos que anseiam dialogar.
Programme based on the viola da gamba repertoire by English and French composers such as Tobias Hume, Christopher Simpson, Marin Marais and Sainte Colombe. On this journey between the two countries linked by the English Channel, we encounter Marc-Antoine de Saint-Amant’s words, selected by the poet Katherine Philips, on solitude. ‘Oh solitude, my sweetest choice’ is the theme for a monody over ground bass by Henry Purcell and inspires a danced concerto formed of two parallel monologues that are eager to converse.
Português
Espelhando o repertório para viola da gamba de compositores franceses e ingleses, o poema La Solitude de Marc Antoine de Saint-Amant (1594-1661), parcialmente traduzido pela escritora inglesa Katherine Philips (1631-1664) testemunha a interinfluência entre a cultura continental e insular e nomeadamente, entre a cultura gaulesa e a bretã. Culturas e regiões que, apesar de muitas vezes em conflito durante a idade moderna, se nutrem mutuamente entre quezílias e seduções mútuas. Uma tentativa constante de se afastar, apesar da proximidade histórica, de se identificar contra o outro. Um continente que se escuda, uma insula que se protege, enfim… uma vontade de viver por oposição, distanciando-se. Mas, na verdade, apesar de todas as tentativas, gauleses e bretões se encontram e se reinventam com influências mútuas. Saint-Amant e Philips partilham a solitude e a solitude é aqui doce (O! que j'aime la solitude!/ Oh solitude, my sweetest choice). Aqui, a solitude é escolha, é vontade, é recorrência... é ostinato. E é esta solitude que Henry Purcell (1659-1695) musicou: melodia sobre baixo ostinato que lembra deambulação contemplativa por paisagens, por memórias, por pensamentos, por emoções de alguém só. E assim mais do que a resignação, ouve-se a aceitação do estado de solitude como um estado agridoce, mas inspirador. A ideia de confirmação, de repetição inspira igualmente a forma Rondó também presente neste programa como metáfora de eterno retorno: ao mote, a si mesmo. Como se cada refrão fosse o indivíduo só, que se relaciona com outrem aquando das estrofes. «Quando estou só reconheço que existo entre outros que são como eu sós», diz Fernando Pessoa, e com isto nos faz compreender que compomos um mundo de sós que se relacionam, se amam, se odeiam, se encontram, se afastam, enfim, existem juntos mas sempre separados pela inevitabilidade da sua condição solitária. (Ou no caso da Gália e da Bretanha separados pelo mar…) Também en rondeau são Le Badinage e La Revêuse, dois sós que se intitulam e se confirmam de cada vez que regressam ao refrão, corroborando a sua identidade apesar das divagações nos couplets. Em 1659 Christopher Simpson publica The Division Viol: manual para ensinar os seus alunos a improvisar diminuições sobre um ostinato na linha do baixo (divisions upon a Ground), prática tão em voga nessa época. Sobre um ostinato… sobre um chão onde se deambula, se experimenta, se improvisa… se procura novo caminho, novo sentido, novo significado. Os dois prelúdios de Simpson são aqui preliminares de procuras, de reflexões feitas de escrita improvisada. Baseadas em progressões previsíveis são também aqui composições como a Chaconne ou as Folies que, apoiadas na regularidade cadencial, gozam da possibilidade da variação constante e contínua (…deambulando…) como se compusessem um diário de bordo, um filme de vida em que cada couplet é um momento, um episódio, uma idade. A escrita deste percurso é também visível nas coreografias registadas na época aqui interpretadas, através de traçados distintos: uns mais angulosos, outros mais redondos; uns mais sinuosos, outros mais lineares; uns mais agitados e densos, outros mais serenos e diáfanos. O tempo e o espaço desta viagem estão aqui notados compondo um mapa, um registo, um testemunho de quem caminhou, mas também orientando quem agora caminha, no caso, também só. Escutaremos um solilóquio na voz da viola da gamba - o mais humano dos timbres - que nos estimula ao reencontro com o eu, à procura do tempo e do espaço íntimos, da introspeção. Porque a gambista abraça e abriga; a gamba entrega-se e reconforta, formando um só. Veremos o monólogo da dança e da palavra que incorporará o som e suará a emoção, desvendando assim a intimidade. Porque a bailarina amplifica e expande; o espaço envolve e molda, formado um só. Assim navegam a par - os sós – entre geografias, entre cronologias, mas também entre tempi, entre carácteres…entre repetições e entre improvisações. Deambulando... para se encontrarem... se desencontrarem... sempre seguindo, sobre o eterno devir.
English
Mirroring the repertoire for viola da gamba by French and English composers, the poem La Solitude de Marc Antoine by Saint-Amant (1594-1661), partially translated by English writer Katherine Philips (1631-1664), bears witness to the mutual influence between continental and island culture and, in particular, between Gallic and British culture. Cultures and regions that, despite frequent conflicts during the modern age, are mutually nourished by shared grievances and allures. A constant attempt to create distance, despite their historic proximity, to identify against the other. A continent that shields itself, an isle that protects itself, essentially... a desire to live by opposition, by distancing. In truth, however, despite their best efforts, the Gauls and Brits still meet and reinvent themselves with mutual influences. Saint-Amant and Philips share solitude and the solitude here is sweet (O! que j'aime la solitude!/ Oh solitude, my sweetest choice). Here, solitude is a choice, it is desired, it is recurrent... it is ostinato. And it is this solitude that Henry Purcell (1659-1695) set to music: a melody over ground bass that recalls contemplative wandering through the landscape, through memories, through thoughts, through the emotions of a lone individual. And so, more than resignation, we can hear acceptance of this solitude as a bittersweet but inspiring state. The idea of confirmation, of repetition, also inspires the rondo form also present in this programme as a metaphor for eternal return: to the theme, to oneself. As though every refrain were a lone individual, only relating to someone else when we reach the verse. ‘When I am alone, I realise that I exist among others who are, like me, alone,’ said Fernando Pessoa, and with this he gives us to understand that we form a world of lone individuals who form relationships, who love, hate, come together, move apart, who essentially exist together but always separated by the inevitability of our solitary condition. (Or in the case of France and Britain separated by sea...) Also in rondeau form are Le Badinage and La Revêuse, two individual pieces that name and confirm themselves each time they return to the refrain, corroborating their identity despite their digressions into couplets. In 1659, Christopher Simpson published The Division Viol: a manual to teach his pupils to improvise divisions upon an ostinato bass line (divisions upon a Ground), a practice that was very much in vogue during this period. Upon an ostinato... upon a floor across which we wander, experiment, improvise... we seek a new path, a new sense, new meaning. Simpson’s two preludes are preliminaries here, of searches, of reflections made of improvised writing. Based on predictable progressions, there are also compositions such as Chaconne and Folies which, supported by a regular cadence, enjoy the possibility of constant and continual variation (...wandering...) as if they were composing a logbook, a biopic in which each couplet is a moment, an episode, an age. The writing of this journey is also visible in the choreographies noted during that period and performed here, through distinct outlines: some more angular, some rounder; some more sinuous, others more linear; some denser and more agitated, other calmer and diaphanous. The time and space of this journey are noted here to compose a map, a record, a testimony of those who walked it, but also guiding those who are walking it now, who are also alone. We will hear a soliloquy in the voice of the viola da gamba – the most human of timbres – an encouragement to find ourselves again, a search for an intimate space and time, of introspection. Because the gamba player embraces and shelters, the gamba gives itself and offers comfort, and they become one. We will see the monologue of dance and word that will incorporate sound, perspire emotion, and thus unveil intimacy. Because the dancer amplifies and expands, the space envelops and shapes, and they become one. So they navigate together – these single units – amongst geographies, amongst chronologies, but also amongst tempi, amongst characters... amongst repetitions and amongst improvisations. Wandering... to find each other... to lose each other... always following, towards the eternal becoming.
Português
Filipa Meneses. Licenciada em Piano pela ESMAE (Porto) e Conservatorium van Amsterdam (Holanda).
Com a descoberta da Viola da Gamba dedica-se apaixonadamente ao estudo deste instrumento.
Conclui o Mestrado em Viola da Gamba na Schola Cantorum Basiliensis (Suíça) sob orientação de Paolo Pandolfo, após a Licenciatura no Real Conservatório de Haia (Holanda), sob a orientação de Philippe Pierlot.
Teve a oportunidade de estudar com os gambistas mais proeminentes da actualidade, como Atsushi Sakai, Baldomero Barciela, Christophe Coin, Emmanuel Balssa, Juan Manuel Quintana, Rainer Zipperling, Sergi Casademunt, Willand Kuijken e Xurxo Varela.
Gravou para várias editoras nomeadamente Harmonia Mundi (Gli Incogniti – Amandine Beyer), Naxos (Capella Duriensis), Outhere Music (Voces Suaves), assim como a primeira gravação mundial do recém descoberto “Leuven Chansonnier” com Sollazzo Ensemble - Passacaille/Ambronay editions.
Apresenta-se regularmente com diversos agrupamentos como “Le Parlement de Musique” (Martin Géster/FR), “Profeti della Quinta” (Elam Rotem/CH), “Les Timbres”(Miriam Rygnol/FR), “Sollazzo Ensemble” (Anna Danilevskaya/CH), “Seconda Pratica Ensemble” (J. Alvarado/N. Atalaia/NL), Voces Suaves e “Músicos do Tejo” (Marcos Magalhães/Marta Araújo/PT) entre outros.
Numa busca constante por explorar diferentes linguagens na Viola da Gamba trabalhou em estreito contacto com compositores como Georg Friedrich Haas, Guillermo Klein ou Bardia Charaf estreando obras suas mundialmente.
Primeiro lugar no Prémio Jovens Músicos 2012, categoria Música Barroca com o ensemble "Heptachordum”.
Catarina Costa e Silva. A sua atividade artística e pedagógica abrange as suas diferentes formações: curso vocacional de dança (Ginasiano Escola de Dança); Licenciatura em História da Arte (Faculdade de Letras da Universidade do Porto); Licenciatura em Canto (Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo); Master of Arts-Music-Theatre Studies (University of Sheffield); Curso de Encenação de Ópera (Fundação Calouste Gulbenkian). Fez formação em Danças Antigas com renomados mestres como Béatrice Massin, Bruna Gondoni, Caroline Pingault, Catherine Turocy, Cecília Gracio Moura, Cecília Nocilli, Diana Campóo, Dorothée Wortelboer, Françoise Denieau, Jürgen Schrape, Marie Geneviève Massé, Maria José Ruiz, Maurizio Padovan, Ricardo Barros. Como intérprete (dança contemporânea, dança antiga, canto) ou assumindo a encenação/direção coreográfica, apresentou-se dentro e fora da Europa (Alemanha, Brasil, Espanha, Finlândia, França, Inglaterra, Itália) em importantes eventos (Aerowaves-Londres, Guimarães 2012–Capital Europeia da Cultura, Dias da Música-CCB, Tempestade e Galanterie-Queluz, Festival Mozart-Rovereto, Fringe-Utrecht, Encontro de Música Antiga de Loulé) com diversos agrupamentos nacionais e estrangeiros (Capella Sanctae Crucis, Coro da Casa da Música, Divino Sospiro, Ensemble Americantiga, Ensemble Clepsidra, Ensemble Elyma, Il Dolcimelo, O Bando do Surunyo, Orquestra de Mateus, Orquestra Vigo 430, Udite Amanti, ...). Leciona Danças Antigas no Curso de Música Antiga da ESMAE – I.Porto desde 2008, assim como em diferentes instituições nacionais e estrangeiras (como exemplo: EUBO – European Baroque Orchestra ou Semana de Música Antiga da Universidade Federal de Minas Gerais). É membro fundador da Portingaloise – Associação Cultural e Artística e diretora artística do Portingaloise – Festival Internacional de Danças e Músicas Antigas (desde 2015). É doutoranda de Estudos Artísticos- Estudos Musicais e membro colaborador do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra.
English
Filipa Meneses. Degree in Piano from ESMAE (Porto) and Conservatorium van Amsterdam (Netherlands).
After discovering the viola da gamba, she devoted herself passionately to studying the instrument.
She completed a master’s in Viola da Gamba at the Schola Cantorum Basiliensis (Switzerland), under the guidance of Paolo Pandolfo, after graduating from the Royal Conservatoire of the Hague (Netherlands), under the guidance of Philippe Pierlot.
She has had the opportunity to study with the most celebrated gamba players of the present day, such as Atsushi Sakai, Baldomero Barciela, Christophe Coin, Emmanuel Balssa, Juan Manuel Quintana, Rainer Zipperling, Sergi Casademunt, Willand Kuijken and Xurxo Varela.
She has recorded for various labels, namely Harmonia Mundi (Gli Incogniti – Amandine Beyer), Naxos (Capella Duriensis), Outhere Music (Voces Suaves), as well as the first global recording of the recently discovered ‘Leuven Chansonnier’ with Sollazzo Ensemble - Passacaille/Ambronay editions.
She regularly performs with diverse groups such as ‘Le Parlement de Musique’ (Martin Géster/FR), ‘Profeti della Quinta’ (Elam Rotem/CH), ‘Les Timbres’ (Miriam Rygnol/FR), ‘Sollazzo Ensemble’ (Anna Danilevskaya/CH), ‘Seconda Pratica Ensemble’ (J. Alvarado/N. Atalaia/NL), Voces Suaves and ‘Músicos do Tejo’ (Marcos Magalhães/Marta Araújo/PT) among others.
On her constant quest to explore different languages in viola da gamba, she has worked in close contact with composers such as Georg Friedrich Haas, Guillermo Klein and Bardia Charaf, giving world-first performances of their works.
First place in the Young Musicians Prize 2012, Baroque Music category, with the ensemble ‘Heptachordum.’
Catarina Costa e Silva. Her artistic and teaching work demonstrates her wide-ranging training: vocational dance course (Ginasiano Escola de Dança); Degree in History of Art (Faculty of Humanities, University of Porto); Degree in Singing (Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo); Master of Arts-Music-Theatre Studies (University of Sheffield); Opera Staging Course (Calouste Gulbenkian Foundation). She trained in Early Dance with renowned masters such as Béatrice Massin, Bruna Gondoni, Caroline Pingault, Catherine Turocy, Cecília Gracio Moura, Cecília Nocilli, Diana Campóo, Dorothée Wortelboer, Françoise Denieau, Jürgen Schrape, Marie Geneviève Massé, Maria José Ruiz, Maurizio Padovan and Ricardo Barros. As a performer (contemporary dance, early dance, singing) or taking responsibility for staging/choreography, she has worked in and outside Europe (Germany, Brazil, Spain, Finland, France, England, Italy) at major events (Aerowaves-London, Guimarães 2012- European Capital of Culture, Music Days-CCB, Tempest and Galanterie-Queluz, Festival Mozart-Rovereto, Fringe-Utrecht, Loulé Early Music Meet) with diverse national and foreign groups (Capella Sanctae Crucis, Coro da Casa da Música, Divino Sospiro, Ensemble Americantiga, Ensemble Clepsidra, Ensemble Elyma, Il Dolcimelo, O Bando do Surunyo, Orquestra de Mateus, Orquestra Vigo 430, Udite Amanti, etc.). She has taught Early Dance on the Early Music course at ESMAE – I.Porto since 2008, as well as at different Portuguese and foreign institutions (including: EUBO – European Baroque Orchestra or Early Music Week at the Federal University of Minas Gerais). She is a founding member of Portingaloise – Cultural and Artistic Association and artistic director of Portingaloise – International Festival of Early Dance and Music (since 2015). She is studying for a doctorate in Artistic Studies - Musical Studies and a collaborative member of the Centre for Classical and Humanistic Studies at the University of Coimbra.