Guardados
Guardados 002
 

Filipe Faria

Livro \Book
Exposição \Exhibition
Música \Music
Paisagem Sonora \Soundscape
Filme \Film
Fotografia \Photography

 

Um “guardado” é um objecto que sobreviveu ao tempo com intenção. É um daqueles objectos que decidimos poder vir a fazer parte de nós, do que somos hoje, na antecipação de um futuro em que precisamos de ser recordados da sua importância. Guardamos um “guardado” porque o queremos fixar no tempo, neste tempo… para que não se perca nunca.

Guardado (adjectivo): Protegido ou defendido contra algo ou alguém; Que se conserva para não se deteriorar; Posto de parte; Oculto, escondido.
Guardados (nome masculino plural): Objectos que se guardam em caixas ou outros compartimentos.

Um “guardado” pode ser uma fotografia de um acontecimento mais ou menos especial, mais ou menos banal, uma fotografia nossa ou de outrem. De um agente activo na nossa história ou de um desconhecido, ou de um grupo de desconhecidos, ou de um grupo de desconhecidos à volta de um conhecido. Pode ser aquela tesoura da poda que nunca falhou, aquele colar que nos definia, aquele apontamento de coisa importante ou daquela vez em que nos saiu um verso ou uma estrofe. Pode ser um recorte escurecido de uma revista ou jornal entretanto desaparecidos. Pode ser um equipamento tecnológico de ponta, entretanto obsoleto. Pode ser grande, não tem de ser pequeno (haja espaço para guardar o “guardado”). Pode ser uma escada de azeitona na qual os nossos pais e avós subiram e desceram milhares de vezes. Pode, até, ser um “guardado” de gerações… um que nunca experimentámos e que não experimentaremos porque não queremos correr o risco.

Com estes “guardados” podemos contar uma história… a dele, do seu dono ou dona. Ou outra história qualquer, aquela que nos vier à cabeça quando o vemos, tocamos, cheiramos… quando imaginamos, condicionados, como sempre somos, pelo que sabemos ou ignoramos. Estes são os “guardados” sobre os quais queremos contar histórias.

Filipe Faria

A 'guardado’ is an object that has survived over time as a result of intention. It is one of those objects that we decide can become part of us, of who we are today, in anticipation of a future in which we’ll need reminding of its importance. We keep it because we want to preserve it in time, in this time... so that it will never be lost.

Guardado (adjective): protected or defended against something or someone; that is collected and preserved so as not to become damaged; kept away; hidden, concealed.
Guardados (noun, plural): objects that are stored up in boxes or other containers.

A ‘guardado’ can be a photograph of an event, whether special or banal, a photograph of oneself or of someone else. Of an important figure in our lives or of a stranger, or of a group of strangers, or of a group of strangers with someone we know. It can be that pair of pruning shears that never once failed, that necklace that defined us, that note about something important or that time we came up with a verse or a stanza. It can be a browned clipping from a magazine or newspaper that has long since disappeared. It can be what was once a piece of cutting-edge technology, now obsolete. It can be big; it doesn't have to be small (there's plenty of space to keep the ‘guardado’). It can be an olive-picking ladder that our parents and grandparents climbed up and down thousands of times. It can even be a ‘guardado’ from generations past... one we've never used and won't use because we don't want to take the risk.

With these ‘guardados’ we can tell a story... their story or the story of their owners. Or any other story; the one that comes to mind when we see it, touch it, smell it… when we imagine it, conditioned, as always, by what we know or don't know. These are the ‘guardados’ we want to tell stories about.

[Guardado: treasured, preserved, guarded, protected, kept safe]

Filipe Faria

 

Exposição Exhibition

Inauguração \Opening
Centro Cultural Raiano (Idanha-a-Nova) Jul-Out 2024
26 Julho 2024
18h00


Música + Paisagem Sonora Music + Soundscape

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Instalação vídeo Video installation


 

Posfácio

Paulo Longo

Em 1997 o Centro Cultural Raiano abriu as suas portas. Nesse dia 2 de Fevereiro Idanha-a -Nova deu-se a conhecer ao mundo como nunca o tinha feito antes. Terra e gentes reunidas através de imagens, de palavras, de objectos, memória de um quotidiano evanescente.

Guardada, a experiência de muitas vidas somadas, para conhecimento e reflexão futuros. Tangível e intangível, guardados.

Três décadas passadas – ou quase… – as marcas do tempo acumulam-se sobre discurso e matéria. Continuidade, desgaste, revisão, renovação – conceitos que impõem uma reflexão sobre o estado das coisas. O que manter? O que mudar? Mesmo que a matéria não mude, o olhar não se acomoda e ainda bem. À forma cristalizada, inquestionada, não resta muito mais do que a derrisão do esquecimento, o quotidiano invisível da familiaridade permanente.

Ao longo de anos, é difícil não abordar este sentimento, abalado pontualmente por aqueles olhares que tanto agradam como inquietam, incómodos, com a sua percepção desta realidade feita, precisamente, quotidiano. E numa realidade como a que assiste à generalidade dos serviços e instituições com trabalho ou responsabilidade nesta matéria, não é difícil justificar a permanência, a imutabilidade, as razões de ser pelos outros.

Por vezes, episódios disruptivos – cujo controlo nos escapa, não raro – constituem oportunidades de rever conceitos e de intervir para lá do nosso espaço de conforto.

É nessa condição que aqui os encontramos. Olhares novos e sentidos procurados numa lógica de diálogo entre disciplinas, a partir da ruptura de cenário/abordagem pré-existentes.

Para combater o vazio, a anulação da porta fechada, repensamos matéria e discurso. Olhamos para trás no tempo e relembramos razões, formas e objectivos da construção que temos perante nós. Também ela um guardado, à espera de mais um sentido no caminho que se segue, entre novos companheiros de viagem 

Afterword

Paulo Longo

In 1997, the Raiano Cultural Centre opened its doors. On 2 February of that year, Idanha-a -Nova made itself known to the world as never before. Land and people brought together through images, words, objects, the memory of an evanescent daily life.

The experience of many lives safeguarded and brought together for future knowledge and reflection. ‘Guardados’: tangible and intangible elements, saved.

(Almost) three decades on, the marks of time accumulate in discourse and matter. Continuity, wear and tear, revision, renewal – concepts that require reflection on the state of things. What to keep? What to change? Even if the material does not change, the gaze does not settle, and that's a good thing. The crystallised, unquestioned form is left with little more than the derision of oblivion, the invisible daily life of permanent familiarity.

Over the years, it's hard not to approach this feeling, occasionally shaken by those glances that both please and unsettle, uncomfortable, with their perception of this reality that is everyday life itself. And in a reality such as that of the majority of services and institutions that work or have responsibility in this area, it's not difficult to justify permanence, immutability and reasons for being to others.

At times, disruptive episodes, the control of which often escapes us, are opportunities to review concepts and intervene beyond our comfort zone.

It is in this condition that we find them here. New perspectives and meanings sought in a logic of dialogue between disciplines, based on the rupture of pre-existing scenarios and approaches.

To combat the void, the invalidation of the closed door, we rethink matter and discourse. We look back in time and recall the reasons, forms and objectives behind the construction before us. It too is a ‘guardado,’ something saved awaiting one more meaning on the road ahead, among new travel companions.

 

 

002

Filipe Faria
Guardados 002

SEDEIRO
FOICE
CHOCALHO 
MACHADO DE CORTIÇA
FLAX COMB
SCHYTHE
GRAZING BELL
CORK AXE

Filipe Faria
Fotografia Photography 
Filme Film
Som Sound
Música Music

Um projecto A project by 
Arte das Musas

Em parceria com In partnership with 
Município de Idanha-a-Nova 
\UNESCO Creative City of Music

Apoio Support
República Portuguesa - Cultura 
\Direção-Geral das Artes

Filmado e fotografado em Filmed and photographed in 
Zebreira (Idanha-a-Nova)

Agradecimentos Acknowledgments
Paulo Longo
Ana Poças

Posfácio Afterword Paulo Longo

Edição Edition Arte das Musas
Colecção Collection Guardados
Parceria Partnership O Homem ONG
Design gráfico Graphic design Filipe Faria
Tradução Translation Kennistranslations

1ª Edição 1st edition Idanha-a-Nova 2024
Impressão Print Maiadouro
ISBN 978-989-35083-6-7

© 2024 Filipe Faria, fotografias photos
© 2024 Arte das Musas

 

Exposição @ Centro Cultural Raiano (Idanha-a-Nova) Jul-Out 2024