Catálogo
Catalogue

 

Fora do Lugar
Festival Internacional de Músicas Antigas
Early Musics International Festival

Edição Edition 5
2016
Catálogo Catalogue

Idanha-a-Nova
25/11 - 10/12/2016

Tudo junto, num só lugar, num só tempo

No quinto dia de viagem podemos parar. Parar para escutar. Para falar. Podemos parar para logo caminhar... ou parar por parar. Para ficar a olhar. Fechar os olhos e escutar. Estas terras são novas... a terra na minha mão cai para o chão da mesma cor, aquela pedra não estava ali... e esta árvore que me protege era tão pequena. Aqui temos memória daquilo que não vivemos. É a terra, à qual estamos irremediavelmente ligados... são os silvos do vento ou a água que cai do ar em gotas mais ou menos pesadas. O sol claro. O nevoeiro que esconde. O canto daquela ave. Não sei explicar mas estamos cá, na Idanha, como se sempre cá estivéssemos. Como se tivéssemos nascido sob aquela pedra grande que faz de abrigo a uma raposa quando chove. Somos irmãos do tempo e deste espaço que é diferente aqui do que em qualquer outro lado do mundo... Tudo passa. Serenamente. E nós passamos por tudo. Lembramo-nos, como se fosse hoje, daquilo que não vivemos. É isso... aqui não há passado, só presente... e todos os futuros que o presente alimenta. Aqui somos a soma de todos os dias de todos os tempos... porque, mesmo que queiramos, não conseguimos viver ontem... É essa a oferta destas terras. Tudo junto, num só lugar, num só tempo... Por isso podemos estar no lugar certo e ao mesmo tempo fora do lugar... Como se nos víssemos pequenos, crianças, a crescer e a brincar... e logo adultos, velhos, sentados na sombra daquele pomar e com vontade de jogar à bola, ou de mandar uma pedra ao rio porque podemos... ou subir àquela pedra e gritar ao ouvido do ar que passa. No quinto dia da viagem trazemos, a Idanha, mais memórias para juntar às nossas. Memórias de sons, cantilenas, mnemónicas para decorar trivialidades ou ideias especiais, palavras entre dentes e sussurros ao ouvido... pedaços de madeira, troncos e galhos de árvores que se transformam em som nas mãos de alguém. Aqui só somos felizes. E o céu é escuro à noite e claro de dia, como deve ser. Idanha é um convite. Estar fora do lugar é irresistível. Aqui... temos memória daquilo que não vivemos... mesmo daquilo que não somos e que talvez gostássemos de ser. E começamos tudo outra vez como se fosse a primeira... vez. Até já.

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas


Everything together, in one place, in one time

In the fifth day of the journey we can stop. Stop to listen. To talk. We can stop in order to start again... or stop in order to stop. To see what’s there or just close our eyes and listen. These lands are new.... the earth in my hand falls to the ground of the same colour, that stone wasn’t there... and that tree that protects me used to be so small. Here we have a memory of what we didn’t live. It is the land, to which we are inexorably bound... it is the whistling wind, or the water that falls from the air in drops, sometimes heavy, sometimes not. The bright sun. The fog that conceals. The song of that bird. I don’t know how to explain it, but we are here, in Idanha, as if we had always been here. As if we had been born under that big rock that shelters the fox from the rain. We are brothers and sisters of this time and this space that is different here than in any other part of the world... Everything passes. Serenely. And we pass through everything. We remember, as if it were today, that which we didn’t live. And realise that... here there is no past, only present... and all the futures that are fed by the present. Here we are the sum of every day of every time... because, even if we wanted to, we can’t experience yesterday... That is the gift of these lands. Everything together, in one place, in one time... That is why we can be in the right place and, at the same time, out of place... As if we were seeing ourselves when younger, as children, growing and playing... and then as adults, old people, sitting in the shade of that orchard and wanting to kick a ball around, or to throw a stone into the river because we can... or to climb that rock and shout at the passing air. On the fifth day of the journey we bring more memories to Idanha to add to our own. Memories of sounds, songs, mnemonics for remembering trivia or special ideas, muttered words and whispers... pieces of wood, trunks and branches of trees that become sounds in someone’s hands. Here we are simply happy. And the sky is dark at night and light by day, as it should be. Idanha is an invitation. Being out of place is irresistible. Here... we have a memory of what we didn’t live... even of what we are not and would perhaps like to be. And we begin everything one more time as if it were the first... time. See you soon.

Filipe Faria
Director Festival Fora do Lugar
Director Arte das Musas


Festival Fora do Lugar

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